Em um cenário de transformação digital acelerada, o setor financeiro brasileiro vive uma revolução silenciosa que promete redefinir a relação entre instituições e clientes. Ao permitir o compartilhamento seguro de dados, o open banking surge como um mecanismo capaz de fomentar um ecossistema financeiro mais competitivo e inovador. Esta evolução, que ganhou corpo em 2021, agora se desdobra no conceito ampliado de open finance, reunindo bancos, fintechs, corretoras e seguradoras em um ambiente colaborativo e dinâmico.
O Open Banking foi oficialmente implementado no Brasil em 2021, estabelecendo as bases para o futuro compartilhamento de informações financeiras entre instituições autorizadas. Rapidamente, esse modelo evoluiu para o conceito de Open Finance, que não se limita mais aos dados bancários, mas engloba fintechs, corretoras, seguradoras, companhias de câmbio e fundos de previdência. Por meio dessa expansão, consumidores – tanto pessoas físicas quanto jurídicas – podem compartilhar seu histórico de depósitos, investimentos, seguros e câmbio, o que aumenta o poder de escolha do consumidor e cria espaço para produtos personalizados. Esse movimento impulsiona processo de tomada de decisão mais ágil ao reduzir barreiras e permitir oferta de serviços sob medida.
Além disso, todo esse fluxo de dados opera sob estrita supervisão do Banco Central do Brasil, garantindo que cada usuário mantenha o controle absoluto sobre seus dados e que nenhum registro seja utilizado sem consentimento prévio.
Os números revelam a velocidade de adoção do Open Banking no país. Em janeiro de 2023, o ecossistema contava com 21 milhões de consentimentos ativos e registrava cerca de 1 bilhão de transações semanais. Um ano depois, em 2024, esses valores dobraram, atingindo 42 milhões de autorizações e ultrapassando 1 bilhão de operações por semana. Já em janeiro de 2025, o Brasil alcançou a marca de 62 milhões de consentimentos ativos, com mais de 40 milhões de clientes pessoas físicas e jurídicas e mais de 2,3 bilhões de transações semanais. Segundo a Febraban, o investimento do setor ultrapassou R$ 2 bilhões em investimentos nos primeiros três anos de implementação.
Com a padronização de APIs e a abertura de dados, o Open Banking nivela o campo de competição, permitindo que novas empresas entrem no mercado com agilidade e custo reduzido. Ao compartilhar histórico financeiro de forma padronizada, o sistema elimina barreiras de entrada, forçando bancos a aprimorar produtos, reduzir taxas e investir em tecnologias avançadas. Como resultado, surgem modelos de negócios diferenciados que agregam valor ao cliente e elevam o patamar de qualidade do setor.
Por exemplo, uma fintech especializada em crédito para microempresas conseguiu reduzir o tempo de análise em 70% ao integrar dados bancários automaticamente. Simultaneamente, grandes bancos desenvolveram portais que oferecem simuladores personalizados de investimentos com base no histórico compartilhado. Essas iniciativas concretas mostram como a competição incentiva iniciativas centradas no usuário e melhora o acesso a condições diferenciadas.
A estrutura regulatória brasileira, coordenada pelo Banco Central, estabelece padrões rigorosos para APIs e fluxos de consentimento, assegurando que nenhum dado seja utilizado sem autorização. A infraestrutura baseada em APIs padronizadas garante interoperabilidade e minimiza riscos técnicos, enquanto protocolos de segurança avançados, como autenticação multifator e criptografia de ponta a ponta, reforçam a confiança do usuário. Todo o processo inclui mecanismos de prevenção a fraudes e maior transparência, fundamentais para consolidar o Open Finance como um ambiente seguro e confiável.
O roadmap regulatório prevê avanços em governança e qualidade de dados, bem como a ampliação de jornadas de pagamentos ainda em 2025. Atualmente, menos de 10% dos consentimentos são originados por pessoas jurídicas, mas espera-se uma maior participação de empresas no ecossistema. O segmento de pagamentos desponta como protagonista, projetando crescimento anual de 30% entre 2025 e 2030, com movimentação estimada em US$ 3,65 bilhões até o fim da década. Essas tendências indicam ampla adoção por pessoas físicas e jurídicas e a consolidação de processos financeiros mais ágeis, integrados e personalizados.
Apesar dos avanços, o Open Finance ainda enfrenta desafios relevantes. A educação financeira do usuário final é essencial para que consentimentos sejam informados e seguros, evitando riscos de uso indevido. Do lado corporativo, há resistência de parte das instituições em mudar processos internos e investir em APIs para integração contínua. Além disso, a harmonização global de padrões pode acelerar o compartilhamento internacional de dados, mas exige esforços conjuntos para assegurar compliance e privacidade.
Além disso, a conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) exige cuidados adicionais na coleta e tratamento de informações, o que pode gerar custos extras para instituições menores. A sinergia com regulações internacionais, como o GDPR europeu, ainda está em fase de construção, mas tende a se intensificar à medida que o Brasil se consolida como referência. A lacuna de interoperabilidade entre diferentes plataformas, quando não há padronização global, pode gerar fragmentação e riscos de compatibilidade técnica.
Para aproveitar todo o potencial do Open Banking e fortalecer a competitividade, é fundamental que bancos, fintechs e consumidores adotem práticas estruturadas:
Para as instituições, é vital promover programas de capacitação interna, envolvendo equipes de TI, compliance e atendimento ao cliente. Além disso, envolver o público em campanhas de educação digital fortalece a imagem de segurança e transparência. Já os usuários devem verificar periodicamente quais empresas possuem acesso aos seus dados, revogando autorizações não utilizadas e explorando comparadores de serviços para encontrar as melhores condições.
À medida que o Open Banking se consolida como um pilar da transformação digital, surge uma oportunidade única para instituições financeiras de todos os portes se reinventarem e para consumidores assumirem um papel ativo na construção de sua jornada financeira. A competitividade não deve ser vista apenas como disputa de mercado, mas como uma força propulsora de inovação e inclusão. Ao compartilhar dados com responsabilidade, clientes podem obter melhores taxas, serviços personalizados e um ecossistema que valoriza a transparência. Instituições que abraçam essa realidade constroem relacionamentos duradouros, baseados em confiança e excelência operacional. O futuro do setor financeiro no Brasil, alicerçado pelo Open Finance, já está em curso – e cabe a cada participante decidir como contribuir para esse movimento de progresso.
Referências