O setor de previdência complementar no Brasil vive um momento de profunda transformação. Movido por mudanças regulatórias, avanços tecnológicos e um perfil de investidor cada vez mais exigente, o mercado busca novas soluções para atrair participantes e oferecer produtos alinhados aos desafios atuais. Em meio a esse cenário, as estratégias temáticas despontam como um vetor de inovação capaz de gerar valor financeiro e impacto social, reunindo sustentabilidade, tecnologia e internacionalização em um único propósito.

O cenário de mudança na previdência complementar

Nos últimos anos, o setor enfrentou juros elevados, incertezas fiscais e volatilidade global. Paralelamente, a regulação avançou com medidas como a ICVM 175 e facilitação de acesso a fundos internacionais. Esses elementos criaram uma atmosfera de experimentação e adaptação, com entidades como ANBIMA e Abrapp enfatizando temas de educação financeira e personalização de produtos e serviços. A expectativa é que, até 2026, a digitalização, o uso de inteligência artificial e a tokenização de ativos estejam consolidados nas gestoras.

Principais estratégias temáticas em destaque

As estratégias temáticas têm ganhado força por permitirem aos participantes investir em tendências de longo prazo. Entre as mais relevantes, destacam-se:

• Foco ESG: Fundos que adotam critérios ambientais, sociais e de governança para selecionar ativos.
• Internacionalização de portfólio: Acesso a ativos globais via fundos feeders e mutual funds.
• Crédito estruturado e FIDCs: Investimento direto em direitos creditórios de setores essenciais.
• Special Situations: Oportunidades em empresas em reestruturação ou distress.
• Mandatos temáticos em multimercados: Alocação em tecnologia, saúde, infraestrutura e tendências futuras.

Cada estratégia atende a perfis de risco distintos e reflete a busca por diversificação, maior rentabilidade ajustada ao risco e respostas às demandas sociais e ambientais atuais.

Números e perspectivas para 2025-2027

O relatório Top 30 Prev da XP mostra movimentações claras rumo à diversificação temática. A taxa Selic elevada favoreceu renda fixa e crédito privado, mas a ambição por ganhos superiores e proteção contra a inflação tem levado investidores a explorar novas frentes. A expectativa é que a adesão automática e os incentivos fiscais sejam reforçados, ampliando a base de participantes.

Entre 2025 e 2027, projeta-se:

• Consolidação de fundos ESG como padrão de mercado.
• Expansão de veículos para investidores de varejo em FIDCs.
• Tráfego intenso em plataformas digitais e uso de IA para gestão.

Casos de sucesso e produtos de destaque

Alguns fundos já se destacam por adotar narrativas temáticas alinhadas a resultados. Exemplos práticos mostram como um produto ESG que investe em energia renovável tem atraído grandes aportes, enquanto outra previdência focada em tecnologia alocou recursos em empresas de semicondutores e startups de inteligência artificial, gerando rentabilidades superiores ao benchmark clássico.

Também há fundos que construíram uma carteira global de ações e renda fixa, protegendo investidores contra choques cambiais e elevando o patamar de diversificação internacional. Essas iniciativas reforçam o valor de inovação combinada ao rigor analítico e demonstram o potencial de narrativas fortes para engajar o público.

Desafios na adoção de temas inovadores

Apesar das oportunidades, algumas barreiras persistem. A baixa educação financeira é um obstáculo para a compreensão de estratégias complexas. A volatilidade macroeconômica e a hesitação de parte dos investidores em alocar recursos no exterior ainda limitam o crescimento de carteiras globais.

• Necessidade de clareza regulatória para novos produtos.
• Resistência cultural à diversificação fora da renda fixa tradicional.
• Descompasso entre expectativas de retorno e perfil de risco.

Oportunidades para engajar novas gerações

Os jovens investem de forma mais consciente e buscam impacto social e ambiental. Plataformas gamificadas, conteúdos educativos em formato de vídeo e chatbots com inteligência artificial podem ser ferramentas determinantes para atrair esse público. A personalização de planos, com opções de micro pensões e produtos voltados à longevidade ativa, reforça a percepção de valor agregado e fidelização de participantes.

Caminhos para o futuro: recomendações práticas

Para gestoras e patrocinadoras que desejam liderar o movimento de estratégias temáticas, sugerimos:

Essas práticas podem acelerar a massificação de fundos temáticos e consolidar o papel da previdência complementar como instrumento de impacto positivo no Brasil.

Conclusão

Os fundos de previdência que adotam estratégias temáticas inovadoras estão na vanguarda de um mercado em transformação. Ao combinar sustentabilidade, internacionalização, crédito estruturado e personalização, oferecem mais do que simples retorno financeiro: proporcionam sentido, propósito e engajamento ao participante.

Em um cenário de desafios macroeconômicos e avanços tecnológicos, a capacidade de inovar de forma estratégica será o diferencial competitivo das gestoras. A jornada de transformação está apenas começando, e aqueles que investirem em narrativas sólidas, educação financeira e tecnologia estarão à frente na construção de um futuro mais próspero e sustentável para todos.