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Setores defensivos ganham força diante da instabilidade global

Setores defensivos ganham força diante da instabilidade global

29/12/2024 - 12:20
Matheus Moraes
Setores defensivos ganham força diante da instabilidade global

À medida que rivalidades entre grandes potências e conflitos regionais intensificam a volatilidade dos mercados, investidores redirecionam seus recursos para segmentos mais estáveis. O ano de 2025 evidencia um movimento persistente em busca de proteção de capital em ativos confiáveis, refletindo uma mudança estratégica na alocação de portfólios.

Este artigo explora o contexto macroeconômico internacional, detalha os segmentos tradicionalmente defensivos, apresenta dados de performance desde fevereiro de 2025 e projeta perspectivas para o próximo ano.

Contexto internacional de instabilidade

O panorama global em 2025 é marcado por crescente fragmentação e tensões geopolíticas, especialmente entre Estados Unidos e China, além de conflitos em curso na Ucrânia e no Oriente Médio. Organismos multilaterais têm demonstrado menor coordenação, gerando incertezas.

Segundo estimativas, o crescimento global modesto de 3,0% em 2025 deverá se repetir em 2026, com economias desenvolvidas avançando 1,6% e emergentes 3,9%. A Ásia continua como o principal motor, apesar de sinais de desaceleração na China e forte expansão na Índia.

Na Ásia, a desaceleração na China contrasta com a vigorosa expansão da Índia, que projeta crescimento acima de 6,5%. Essa dinâmica desigual reforça a inconstância nos fluxos internacionais e a necessidade de portar ativos menos sensíveis a variações bruscas.

O G20, responsável por 75% do comércio mundial e 85% do PIB global, enfrenta dificuldades de consenso para mitigar choques sistêmicos. Essa inércia reforça a busca por ativos menos voláteis e de menor risco.

Performance das bolsas e comportamento dos investidores

Desde fevereiro de 2025, há um fluxo consistente em ações de perfil defensivo, consolidando a preferência mesmo após correções pontuais. Investidores manifestam uma clara aversão aos riscos excessivos e privilegiam receitas estáveis.

Segundo dados de grandes gestoras, a alocação em ações defensivas superou 30% dos portfólios globais em março de 2025, um aumento de 5 pontos percentuais desde dezembro de 2024.

Esse cenário de demanda firme por segurança se reflete na queda da participação de setores cíclicos, que agora representam menos de 10% do total de ações recomendadas.

Fundos de renda fixa de curto prazo e papéis investment grade também registraram captações robustas, evidenciando a busca por menor volatilidade e previsibilidade nos retornos.

Setores tradicionalmente defensivos

Os segmentos considerados defensivos concentram-se em serviços essenciais e produtos de demanda inelástica. Destacam-se:

  • utilidades públicas essenciais ao ciclo econômico: energia, água e saneamento apresentam receitas estáveis mesmo em crises
  • serviços de saúde com demanda inelástica: hospitais, laboratórios e farmacêuticas mantêm procura constante
  • produtos de consumo básico com procura contínua: alimentos e itens de higiene são menos sensíveis às oscilações
  • bancos e seguradoras com fluxos recorrentes: regulados por regras rígidas e margens mais estáveis

O yield médio desses setores costuma superar 3,5% ao ano em dividendos, aliado à segurança jurídica e regulatória que reduz o risco de perdas abruptas.

Essa combinação de atributos garante fluxos de caixa previsíveis e distribuição de risco, fatores decisivos em um ambiente global adverso.

Perspectivas econômicas para 2025

No cenário dos principais blocos econômicos, as projeções reforçam a atratividade dos setores defensivos:

Nos Estados Unidos, a expectativa de aterrissagem suave da economia e cortes graduais de juros pelo Fed sustentam o mercado de títulos de alta qualidade.

Importante destacar que o diferencial de financiamento nos EUA permanece atrativo, com curva de juros invertida em alguns trechos, sinalizando preferência por papéis de curto prazo de alta liquidez.

Na zona do euro, o debate sobre tarifas e políticas fiscais pressiona alguns setores, mas os segmentos defensivos mantêm menores spreads de crédito, elevando sua atratividade.

Riscos e motivações para buscar proteção

A fragmentação política, o risco de escalada em conflitos armados e a rivalidade tecnológica entre EUA e China aumentam a probabilidade de choques inesperados.

Além das tensões militares, o avanço de barreiras comerciais e sanções tecnológicas intensifica o risco de rupturas logísticas, elevando a incerteza sobre cadeias de suprimento globais. A necessidade de proteção contra choque de oferta torna setores defensivos ainda mais relevantes.

A apreciação do dólar em cenários de estresse cambial adiciona uma camada extra de segurança para investidores alocados em ativos internacionais, consolidando a preferência por instrumentos denominados em moeda forte.

Tendências de investimento e recomendações

As principais casas de análise mantêm peso elevado em setores defensivos nas carteiras recomendadas para 2025. Entre as estratégias de destaque, encontram-se:

  • Alocação em ETFs setoriais de saúde, utilidades públicas e consumo básico
  • Incremento de renda fixa de curto prazo e títulos investment grade
  • Exposição moderada a exportadores de commodities, complementada por proteção cambial

Novos ETFs focados em utilidades renováveis, biotecnologia e seguros cibernéticos ganharam tração, captando bilhões em poucos meses e demonstrando o apetite por diversificação defensiva.

Analistas recomendam a montagem de portfólios com horizonte mínimo de três a cinco anos para que a estratégia defensiva maximize retornos ajustados ao risco.

Considerações finais

Em um cenário global incerto, a dominância dos setores defensivos em 2025 reflete o desejo de menor sensibilidade a oscilações e maior previsibilidade de fluxos de caixa e dividendos. Investidores conservadores e moderados encontrarão nesses segmentos um porto seguro, enquanto gestores que buscam diversificação podem combiná-los com posições seletivas em mercados emergentes.

Manter uma parcela significativa do portfólio alocada a utilidades, saúde, consumo básico e instituições financeiras estruturadas pode fazer a diferença na preservação de capital e na geração de retornos consistentes, mesmo diante de choques e tensões geopolíticas.

Matheus Moraes

Sobre o Autor: Matheus Moraes

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