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Fundos imobiliários ajustam estratégias frente a mudanças regulatórias

Fundos imobiliários ajustam estratégias frente a mudanças regulatórias

22/01/2025 - 04:15
Fabio Henrique
Fundos imobiliários ajustam estratégias frente a mudanças regulatórias

Em um cenário de transformações constantes, os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) brasileiros enfrentam o maior processo de modernização de suas estruturas regulatórias nas últimas décadas.

Este movimento não se trata apenas de adequação normativa, mas de uma oportunidade para revisão de práticas e inovações estratégicas que podem fortalecer o setor e beneficiar investidores.

Contexto e evolução regulatória

No final de 2022, a CVM publicou a Resolução 175, que entrou em vigor com prazo de adaptação até 30 de junho de 2025. Essa norma substituiu a antiga Instrução CVM 555 e outras 38 regras, unificando e simplificando o arcabouço jurídico dos fundos no Brasil.

O principal objetivo é aumentar a segurança jurídica e transparência, reduzir divergências de interpretação e alinhar o mercado local às práticas de jurisdições internacionais mais maduras.

Além das regras gerais, a Resolução 175 traz anexos específicos para cada classe de fundo, incluindo os FIIs, o que orienta diretamente sobre alavancagem, operações com partes relacionadas, recompra de cotas e uso de imóveis como garantia.

Principais exigências e impactos

Com a nova norma, as gestoras devem observar:

  • Segregação clara de taxas e custos;
  • Limites de alavancagem mais rígidos;
  • Transparência em operações de recompra de cotas;
  • Condições para contratação de partes relacionadas;
  • Possibilidade de integralização de cotas com bens imóveis.

Essas alterações trazem maior rigor ao processo de governança, mas também abrem espaço para novas estruturas e produtos, alinhados a padrões internacionais de compliance e gestão de riscos.

Para os investidores, espera-se um ambiente mais claro, com relatórios e informações padronizadas, porém a escolha de fundos demandará análise minuciosa de regulamentos revisados.

Comparativo: antes e depois da Resolução CVM 175

Estratégias de adaptação dos gestores

Para garantir conformidade e, ao mesmo tempo, explorar oportunidades, as gestoras vêm adotando:

  • Revisão de regulamentos: Assembleia extraordinária para atualizar documentos e aprovar mudanças;
  • Modernização de políticas internas de compliance e risco;
  • Adoção de novos mecanismos de recompra de cotas e atualização do lock-up pós-emissão;
  • Inserção de cláusulas que permitem o uso de imóveis como garantia;
  • Definição de limites claros para operações com partes relacionadas.

Exemplos práticos vêm de fundos como JSCR11 e SNEL11, que já validaram essas mudanças em assembleias, buscando flexibilidade e segurança ao mesmo tempo.

Desafios e oportunidades no cenário macroeconômico

O contexto de juros elevados, com Selic projetada em 15% ao fim de 2025, impacta diretamente os FIIs de tijolo, reduzindo a atratividade de novos projetos de construção e aquisição de imóveis físicos.

Por outro lado, os FIIs de papel, que investem em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), tendem a se beneficiar, pois seu rendimento acompanha a variação do CDI e inflação, oferecendo proteção contra a alta de juros.

Gestoras devem equilibrar portfólios, evitando concentração excessiva e buscando diversificação entre tijolo e papel, além de planejar cenários de estresse e negociar condições de financiamento mais vantajosas.

Recomendações para investidores

Com tantas mudanças, os cotistas devem:

  • Analisar minuciosamente os regulamentos atualizados de cada FII;
  • Avaliar o grau de alavancagem e políticas de recompra de cotas;
  • Considerar o mix entre FIIs de tijolo e FIIs de papel;
  • Observar práticas de governança e transparência nos relatórios trimestrais;
  • Mantê-se atualizado sobre novas normas e assembleias.

Essa postura proativa permite captar oportunidades e mitigar riscos num ambiente regulatório mais exigente.

Perspectivas para 2025 e além

O mercado de fundos no Brasil é o sexto maior do mundo, com cerca de R$ 9 trilhões sob gestão e 41 milhões de contas. Esse tamanho confere escala para a adoção de melhores práticas e aceleração de inovações.

Em 2025, espera-se que as gestoras que internalizarem rapidamente as exigências da Resolução 175 e da Lei 14.754/2023 se destaquem em performance e atração de capitais. A democratização do acesso ao mercado de capitais e a flexibilização de instrumentos para fundos menores devem compor o próximo ciclo regulatório.

A capacidade de adaptação, aliada a uma análise criteriosa dos ativos, será o principal diferencial para gestores e investidores alcançarem resultados sólidos e sustentáveis.

Conclusão

A adequação à Resolução CVM 175 representa um divisor de águas para o setor de FIIs. Embora traga complexidade adicional, oferece um ambiente mais transparente e seguro, alinhado às melhores práticas globais.

Gestores e cotistas que abraçarem essas mudanças com espírito inovador e rigor técnico estarão melhor posicionados para prosperar num mercado cada vez mais competitivo e dinâmico.

Fabio Henrique

Sobre o Autor: Fabio Henrique

Fabio Henrique