As empresas que mantêm raiz e cultura familiar têm se deparado com desafios únicos ao buscar crescimento sustentável. No Brasil, onde cerca de 90% das empresas carregam identidade familiar, a pressão por profissionalização e transparência nunca foi tão alta. Para ultrapassar barreiras históricas e ganhar credibilidade no mercado, muitas organizações viram na aplicação de práticas de governança corporativa o caminho mais seguro para garantir longevidade e expansão.
Responsáveis por uma parcela significativa da economia nacional, as empresas familiares contribuem com 65% do PIB e geram 75% dos empregos formais no país. Esses números evidenciam não apenas sua relevância, mas também a urgência de aprimorar modelos de gestão para enfrentar rupturas de mercado e crises econômicas de forma resiliente.
Embora a maioria se mantenha competitiva, apenas 30% alcançam a terceira geração, o que expõe lacunas na sucessão e no planejamento estratégico. A adoção de práticas sólidas de governança corporativa surge, então, como instrumento crucial para superar tais desafios e consolidar estruturas capazes de sustentar negócios por décadas.
O equilíbrio entre os papéis de sócio e gestor nem sempre é simples. Conflitos de interesse, decisões pautadas em laços afetivos e falta de critérios técnicos acabam minando oportunidades de crescimento. Muitos empreendedores enfrentam dificuldades em separar as emoções familiares das necessidades estratégicas do negócio.
Além disso, a gestão profissional e propriedade frequentemente se chocam quando não existe um protocolo claro para definir responsabilidades. Sem regras internas e processos de comunicação eficientes, a empresa fica vulnerável a disputas que podem comprometer sua reputação perante investidores e parceiros.
A jornada de transformação costuma começar com o diagnóstico das principais fragilidades na sucessão. A partir daí, investe-se na contratação de executivos externos e na implementação de comitês que auxiliem na tomada de decisões estratégicas. Essa profissionalização é essencial para que a empresa evolua do modelo tradicional para um formato mais robusto.
Ao estruturar um conselho de administração formal, a organização garante visões diversificadas, reconhece pontos de melhoria e fortalece a confiança de stakeholders. A formalização de reuniões regulares e a elaboração de atas claras fazem parte de uma cultura de transparência que favorece a atração de investimentos.
Para implantar um sistema de governança efetivo, é importante considerar:
A estrutura formal de tomada de decisão fortalece a capacidade de reação rápida a mudanças no mercado e facilita a adoção de tecnologias que aprimoram controles internos e análises de performance.
Empresas brasileiras como Tramontina, WEG S.A. e Magazine Luiza tornaram-se referências ao combinar tradição e inovação. A Tramontina, por exemplo, equilibra uma cultura de mais de 100 anos com práticas de compliance e planejamento sucessório que envolvem diversas gerações.
Já o Magazine Luiza destaca-se por investir em tecnologia e governança para conquistar bolsas de valores e ampliar seu alcance digital. A separação clara entre propriedade e gestão permitiu a entrada de investidores externos e a estruturação de um conselho consultivo com especialistas em varejo e e-commerce.
Olhar para frente envolve mais do que manter o legado familiar: é preciso antecipar tendências e se preparar para demandas regulatórias. A adoção de métricas de sustentabilidade e a valorização da diversidade, incluindo a participação feminina em cargos de liderança, são fatores que agregam valor e confiança ao negócio.
Ao combinar atrair investidores e acessar o mercado com uma governança estruturada, as empresas familiares ampliam seu potencial de inovação e garantem um legado duradouro. A jornada requer comprometimento de todas as gerações, mas os benefícios para a competitividade e a sustentabilidade do negócio são tangíveis e indispensáveis para quem busca deixar uma marca permanente na economia brasileira.
Com planejamento estratégico e respeito às boas práticas de governança, é possível transformar desafios em oportunidades, criando um ambiente de confiança que favoreça a longevidade e fortaleça o vínculo entre família e mercado.
Referências