Em um cenário global marcado por instabilidades econômicas, oscilações geopolíticas e eventos climáticos extremos, o setor de energia renovável tem se destacado por sua capacidade de adaptação e recuperação. Essas fontes limpas e abundantes vêm demonstrando, repetidamente, sua robustez frente às adversidades.
No Brasil, esse fenômeno ganha força adicional, dada a configuração única da sua matriz elétrica. Com as lições do passado e inovações tecnológicas recentes, o setor trilha um caminho promissor rumo à segurança energética.
A trajetória das energias renováveis no Brasil remonta a grandes hidrelétricas erguidas nas décadas passadas, mas ganhou novo fôlego com o impulso solar e eólico nas últimas décadas. Hoje, o país possui uma matriz elétrica predominantemente renovável, atingindo impressionantes 88,2% da geração elétrica a partir de fontes limpas em 2025.
Essa posição de liderança foi conquistada graças à abundância de recursos hídricos, ventos constantes no Nordeste e alta radiação solar no Centro-Oeste. Com o Plano Decenal de Energia 2023-2032, espera-se um crescimento exponencial da capacidade instalada solar, com usinas distribuídas em residências e grandes parques fotovoltaicos.
Durante a pandemia de COVID-19, o setor de energia renovável mostrou-se menos suscetível às quebras de fornecimento e às flutuações abruptas de demanda, ao contrário das usinas a combustíveis fósseis, que sofreram com gargalos logísticos e variações nos preços do petróleo.
Entre 2018 e 2022, empresas renováveis registraram um aumento de até 25% em seu valor de mercado, atraindo investidores em busca de menor exposição à volatilidade. Conflitos internacionais e restrições de oferta de gás natural tornaram as renováveis ainda mais atrativas, pois são menos dependentes de insumos importados e de mercados especulativos.
Vários elementos têm reforçado a resistência do setor em momentos críticos. Primeiramente, as tecnologias de armazenamento, como baterias BESS, permitem amortecer as variações de geração e otimizar o despacho de energia.
Além disso, empresas com portfólios diversificados e flexibilidade estratégica demonstraram maior estabilidade em períodos de crise, podendo realocar investimentos rapidamente entre regiões ou tecnologias conforme o contexto regulatório e de mercado.
Mesmo com os avanços, alguns obstáculos ainda se impõem ao desenvolvimento sustentável do setor. A integração eficiente entre diferentes fontes de energia exige expansão e modernização da malha de transmissão, cujo atraso pode gerar gargalos e desperdício de potencial gerador.
Os custos iniciais de instalação, principalmente em áreas remotas ou de difícil acesso, ainda são elevados. Barreiras logísticas, falta de incentivos locais e resistência de setores tradicionais retardam processos de licenciamento e implantação.
Adicionalmente, a variabilidade climática coloca sob risco ativos como turbinas eólicas e painéis fotovoltaicos. Eventos extremos — tempestades, secas severas ou enchentes — exigem sistemas de manutenção preditiva e projetos de engenharia cada vez mais robustos.
Um arcabouço regulatório moderno é fundamental para consolidar ganhos de resiliência. Entre as principais demandas do setor, destacam-se:
O fortalecimento de mecanismos de pesquisa e inovação, aliado à participação social, também acelera a adoção de tecnologias emergentes, como o hidrogênio verde e o armazenamento de longo prazo.
No plano internacional, países têm adotado reformas tributárias temporárias e redistribuído subsídios para atenuar impactos no bolso do consumidor. A digitalização de redes e a automação avançada são tendências mundiais, aumentando a visibilidade e o controle em tempo real.
Investidores valorizam empresas alinhadas a critérios ESG (ambiental, social e de governança), observando com atenção sua capacidade de adaptação regulatória e tecnológica. Pequenas e médias geradoras, por sua agilidade, cresceram em participação, enquanto grandes grupos integrados mantiveram segurança operacional.
O futuro do setor de energia renovável em tempos de crise depende da combinação entre inovação contínua, políticas públicas estruturadas e engajamento coletivo. Ao avançar nessa trilha, é possível não apenas enfrentar tempestades econômicas e climáticas, mas também pavimentar a transição para um mundo mais sustentável e justo.
Referências